Na reta final do tempo quaresmal, a Liturgia da Terça-feira Santa nos convida a contemplar, com profundidade, o amor fiel de Deus e a fragilidade humana diante do mistério da traição. A primeira leitura, tirada do Livro do Profeta Isaías (49,1-6), nos apresenta o Canto do Servo Sofredor. Esse servo é escolhido por Deus desde o ventre materno para ser instrumento de redenção e luz para as nações. Mesmo sentindo-se desanimado por, aparentemente, ter trabalhado em vão, ele permanece confiante na justiça de Deus e em sua recompensa.
Esse trecho reflete a missão de Jesus, que, com docilidade e obediência, entrega-se à vontade do Pai, mesmo diante da rejeição e do sofrimento. Ele é a verdadeira “luz das nações”, enviada para restaurar o coração ferido da humanidade.
No Evangelho de João (13,21-33.36-38), estamos no cenáculo, durante a última ceia. Jesus, profundamente comovido, revela que será traído por um dos seus. Judas Iscariotes é identificado como o traidor, mas o mais impactante é o contraste entre a entrega silenciosa de Jesus e a inquietação dos discípulos. A noite que se instala com a saída de Judas simboliza a escuridão que cobre o coração humano afastado da verdade.
Pedro, com sinceridade, promete fidelidade a Jesus, mas não compreende a profundidade do caminho da cruz. Jesus, com ternura e realismo, o alerta de que ele o negará três vezes antes do canto do galo. Isso nos recorda que, mesmo os mais fervorosos, também são suscetíveis à fraqueza.
Reflexão:
A Liturgia de hoje nos convida a olhar para o Cristo servo e humilde, que caminha livremente rumo à cruz, sabendo que sua entrega é o maior sinal do amor de Deus por nós. Ela também nos faz confrontar a realidade da traição e da negação, que não está apenas na história dos discípulos, mas também em nossas atitudes cotidianas.
Somos chamados a refletir: onde está nosso coração nesta semana santa? Estamos dispostos a acompanhar Jesus até a cruz ou preferimos a segurança do anonimato e da omissão?
Que esta Terça-feira Santa nos ajude a renovar nossa decisão por Cristo, a confiar na sua misericórdia mesmo quando falhamos e a seguir seu exemplo de entrega e fidelidade até o fim.